ACT e Flexibilidade Psicológica
Somos o que fazemos e por que fazemos.
-Steven C. Hayes
A capacidade de fazer o que escolhemos para ter a vida que idealizamos é o objetivo final da terapia de aceitação e compromisso (ACT).
Independentemente de quais problemas enfrentamos (ansiedade, depressão, insegurança, ruminação negativa, dor crônica), eles não precisam impedir que ajamos de uma forma que traga significado e propósito à nossa vida.
A ACT
A ACT é uma abordagem psicoterapêutica que visa aumentar a flexibilidade psicológica, ou seja, a capacidade de se adaptar às mudanças e desafios, sem se deixar dominar por pensamentos e emoções desagradáveis, enquanto move sua vida em direções significativas.
Desenvolvida nos Estados Unidos e um dos seus principais pesquisadores é Steven Hayes. Ela tem suas raízes filosóficas no contextualismo funcional e se baseia nos princípios da ciência comportamental e evolutiva, assim como na teoria dos quadros relacionais (RFT, sigla em inglês), que são as bases para a compreensão do funcionamento do comportamento humano, seu sofrimento e bem estar.
"A vida pode ser uma jornada proveitosa, mesmo com seus infortúnios. A questão é que uma jornada realmente satisfatória só pode ocorrer se descartarmos a ordem “sinta-se bem”
-Steven C. Hayes

A visão ACT do Sofrimento
A ACT propõe que a maneira como lidamos com o sofrimento humano é causado pela inflexibilidade psicológica, que é a tendência de se apegar a regras rígidas, evitar experiências desagradáveis, se identificar com pensamentos e sentimentos negativos e se afastar dos valores pessoais.
A essência na ACT é compreender que ela não é uma forma de se livrar do sofrimento, mas de criar mais flexibilidade na maneira como reagimos a ele. Pois os processos de inflexibilidade podem levar a comportamentos que são ineficazes ou prejudiciais para a pessoa e para os outros, inclusive ampliando o próprio sofrimento.
A Flexibilidade Psicológica
Para promover a flexibilidade psicológica, a ACT utiliza seis habilidades interligadas:
flexibilidade Psicológica
Todas as habilidades são importantes e se tornam ainda mais úteis quando associadas no conjunto completo, que formam o modelo do hexaflex, que nos possibilita desenvolver o processo de flexibilidade psicológica.
A ACT não serve apenas para lidar com problemas específicos, as habilidades que envolvem a flexibilidade psicológica podem ser consideradas como um processo para se desenvolver como uma pessoa mais saudável e realizada.
Esses processos são:
Disposição de entrar em contato com as experiências internas (pensamentos, sentimentos, sensações, memórias) sem tentar controlá-las ou evitá-las.
A aceitação não significa resignação ou passividade, mas sim reconhecer a realidade interna como ela é e estar aberto a vivenciá-la.
A aceitação permite que a pessoa se liberte da luta contra si mesma (reatividade) e se concentre no que é importante para ela (escolha).
Processo de estar atento ao momento presente, com curiosidade e abertura, sem julgar ou reagir automaticamente às experiências.
A atenção flexível envolve prestar atenção ao que está acontecendo dentro e fora de si mesmo, sem se distrair com o passado (ruminação) ou o futuro (preocupação).
A atenção flexível permite que a pessoa perceba as oportunidades e as possibilidades do aqui-e-agora, e responda a elas de forma mais consciente e criativa.
São os princípios que orientam as escolhas e os comportamentos da pessoa, de acordo com o que ela considera importante e significativo na vida.
Os valores são pessoais e inerentes à pessoa, não podendo ser impostos ou determinados por outros.
Os valores ajudam a pessoa a definir o seu propósito e o seu sentido de vida, e a motivam a buscar o que lhe traz satisfação e realização.
Processo de se distanciar dos pensamentos negativos, sem se deixar levar por eles ou se identificar com eles.
A defusão ajuda a pessoa a perceber que os pensamentos são apenas eventos mentais transitórios, que não definem quem ela é ou o que ela pode fazer.
A defusão permite que a pessoa questione a validade e a utilidade dos seus pensamentos, e escolha como responder a eles de forma mais flexível.
Processo de se perceber como um observador consciente das próprias experiências internas e externas, sem se confundir com elas.
Adotar um eu mais contextual, permite nos relacionarmos com os outros e a nós mesmos de uma maneira que não é controlada pelas distorções do ego ou auto-histórias.
Quando não nos apegamos aos rótulos sobre nós mesmos, permitimos nos conectar com nossos valores e objetivos, e nos orientar por eles nas nossas decisões e ações.
Processo de se engajar em comportamentos consistentes com os valores pessoais, mesmo diante de obstáculos ou dificuldades.
O compromisso também implica monitorar o progresso e avaliar os resultados das ações tomadas, fazendo os ajustes necessários para manter o foco nos valores.
Conforme nos comprometemos e agimos sistematicamente levando os valores em consideração, aumentamos as chances de desenvolver hábitos e aumentamos as chances de progredir em todas as habilidades que envolvem a flexibilidade psicológica.
A tentativa de se livrar ou se afastar das experiências internas desagradáveis, por meio de comportamentos que podem ser nocivos ou ineficazes, como a procrastinação, a compulsão, o uso de drogas, a fuga, a agressividade, etc.
A evitação experiencial pode aliviar temporariamente o sofrimento, mas também pode aumentá-lo a longo prazo, pois impede que a pessoa enfrente e resolva os seus problemas, e reduz as suas oportunidades de crescimento e aprendizado.
Processo de não estar atento ao momento presente, por estar distraído com o passado (ruminação) ou o futuro (preocupação), muitas vezes julgando ou reagindo impulsivamente às experiências.
A inflexibilidade na atenção, faz com que a pessoa perca as oportunidades e as possibilidades do aqui-e-agora, e responda a elas de forma mais impulsiva ou não conseguindo se conectar com seus valores.
Processo de não ter clareza e consciência dos valores pessoais, por falta de reflexão, de conhecimento ou de motivação.
A ausência da consciência dos valores faz com que a pessoa se sinta perdida, confusa ou insatisfeita com a vida, se deixando levar por influências externas ou internas que não correspondem ao que ela realmente quer ou considera importante (desejos e deveres).
A processo de se apegar ou se deixar levar pelos pensamentos desagradáveis, sem questioná-los ou percebê-los com literalidade.
A fusão cognitiva faz com que a pessoa tome os seus pensamentos como verdades absolutas ou como ordens que devem ser seguidas.
A fusão cognitiva limita a capacidade da pessoa de ver outras perspectivas ou possibilidades, e interfere na sua tomada de decisão e na sua ação.
Processo de conceituar a si mesmo de forma rígida, o eu conceito faz com que a pessoa se defina por aquilo que ela pensa, sente, faz ou possui, ou por aquilo que os outros pensam, sentem ou fazem em relação a ela.
É o processo de se tornar um com a própria história (traumas, abandonos, fracasso, etc) ou focar na constante comparação com os outros, tornando a pessoa mais vulnerável às flutuações das circunstâncias ou das avaliações momentâneas, acaba dificultando que ela se conecte com os seus valores e objetivos.
Referências
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Terapia de Aceitação e Compromisso: O Processo e a Prática da Mudança Consciente (2021) - Steven C. Hayes
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Uma mente livre: como se direcionar ao que realmente importa (2023) - Steven C. Hayes
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Disponível em: https://amzn.to/3Rp86Dk
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Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso (2015) - Michaele Terena Saban
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Disponível em: https://amzn.to/415fUNI
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